sábado, 18 de outubro de 2014




UM PRESUNTO COMO ALÁ QUER



Por J. A. Dias Lopes


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   Vetado pelas suas leis religiosas, que abominam a carne de porco, muçulmanos e judeus sempre evitaram comer presunto, o mais nobre produto suíno. Mas parecem ficar com água na boca. Tanto que agora se permitem saborear presunto, sem contudo incorrer em pecado. Os espanhóis já estão fazendo para os muçulmanos jamón de cordero (presunto de cordeiro), com aparência e características sensoriais similares ao de porco. Um dos produtores é o tunisiano Fayçal Mrad Dali.


                     Fayçal e seus presuntos


   Ele instalou seu negócio nas proximidades de Huelva, na Andaluzia, a 620 quilômetros de Madri, com apoio de uma sociedade de criadores de ovinos que não liga para as leis religiosas, quer apenas vender cordeiro. Ali funciona a Balkis Gourmet, batizada com o nome islâmico da rainha de Sabá, que viveu no século 10 a.C. em um reino formado pelos atuais territórios da Etiópia e do Iêmem. Na verdade, Fayçal mira o mercado dos países muçulmanos. Só a Arábia Saudita encomendou este ano 1 tonelada de jamón de cordero.

                                    A rainha de Sabá



      Além do mais, trata-se de presunto halal, ou seja, permitido pelas leis islâmicas, pois o ovino foi abatido conforme os preceitos do Alcorão (o livro sagrado dos muçulmanos), válidos também para o bovino, o caprino e o galiforme (frango, galinha ou galo). No momento do sacrifício, o animal deve se encontrar saudável, “inequivocamente vivo” e virado para a cidade sagrada de Meca, no sudoeste da Arábia Saudita. Quem o realiza tem de ser muçulmano e conhecer as regras islâmicas.
      O ritual transcorre com faca afiada. Corta-se o pescoço do animal antes da traquéia, o mais rápido possível, para abreviar o sofrimento e esgotar completamente o sangue, cujo consumo os muçulmanos abominam, pois acreditam abrigar a alma. Antes do abate, pronuncia-se a frase: “Em nome de Alá, o mais Bondoso, o mais Misericordioso”. Já no caso das carnes haram (proibidas pelas leis islâmicas), sejam as de porco, cobra, cachorro, gato, tigre ou de todos os animais carnívoros, não existe possibilidade de purificá-las.
      A Balkis Gourmet processa seus cordeiros entre outubro e março, cada um com menos de seis meses de idade e pesando no máximo 50 quilos. O presunto resulta com cerca de três quilos de peso e sai por 100 euros a peça. A cor interna se apresenta mais escura do que a do produto de porco. Por ter menos gordura entre as fibras, não é tão untuoso quanto o outro. Sente-se ligeiro sabor da carne ovina, mascarado pelo sal. Há uma versão defumada, mais deliciosa.

      Embora a Balkis Gourmet se volte para os países árabes, há procura pelo seu jamón de cordero dentro da Europa, onde se multiplica a população de fé muçulmana. Aliás, cresce no Velho Continente o interesse por todas as carnes que sejam halal. No Reino Unido e Irlanda, onde quase 5% da população se declara crente em Alá, a rede americana Subway, especializada em sanduíches e saladas, acaba de anunciar que 185 endereços seus baniram os produtos não preparados segundo os rituais muçulmanos. “A Europa pós-cristã se submete ao islamismo”, comentou o The Times, de Londres.

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