ALLA
CARBONARA, O MOLHO DOS RAPAZES DO GENERAL
Por J. A. Dias Lopes
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Os romanos acham que os americanos não têm cultura humanística e se divertem contando piadas deles ambientadas na Cidade Eterna. Dizem, por exemplo, que em junho de 1944, após invadir a capital da Itália e libertá-la da dominação nazista, o general Mark Clark (1896-1984), comandante do 5ª Exército dos Estados Unidos e das tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial, quis conhecer os monumentos de Roma. Chamou um dos seus oficiais, que havia morado ali, e pediu para acompanhá-lo. Quando o jeep no qual estavam parou diante das ruínas do Coliseu, Clark exclamou: "Mas que belo trabalho fizeram aqui os nossos rapazes!".
Em
compensação, os rapazes do general podem ter contribuído para enriquecer a mesa
da capital italiana, ajudando a criar o molho alla carbonara, hoje sucesso
mundial, usado em massas como spaghetti (a melhor opção), vermicelli, bucatini
e penne. Leva guanciale (bochecha de porco curada) frito na banha ou azeite,
misturado com ovos batidos, creme de leite (opcional e discutível), pecorino
(queijo de ovelha) romano e parmesão ralados, além de pimenta-do-reino moída.
Foto Reinaldo Mandacaru
A versão mais corrente sustenta que a
receita surgiu no final da Segunda Guerra Mundial. Quando os soldados americanos
entraram em Roma, a cidade estava na mais completa penúria. Só a tropa de Clark
dispunha de alimentos. Combinando dois ingredientes da ração militar – ovo e
bacon -, incorporando-os à massa cozida al dente, um cozinheiro local criou o
prato. Uma variação dessa teoria localiza o nascimento da receita em uma trattoria
não identificada. Os rapazes do general entraram ali levando ovo, bacon e
noodles. O cozinheiro os preparou separadamente. Fartos daqueles sabores
invariáveis, os americanos misturaram tudo.
Alguns de autores, porém, discordam da
versão. Afirmam que os soldados não inventaram nada. A receita seria
"evolução" de outra mais antiga, chamada cacio (queijo de cabra ou
ovelha) e ova (ovo), originária da região do Lazio, onde se encontra Roma, ou
da vizinha Abruzzo, que os carbinai (carvoeiros, os produtores de carvão
vegetal, daí o nome do prato) levavam na marmita. Preparavam-na na véspera e a
comiam fria. Durante a ocupação de Roma pelos alemães, muitas famílias da
cidade foram para as montanhas de Abruzzo, nas quais teriam conhecido a receita
de cacio e ova. Outra explicação para o nome alla carbonara: o hábito de
acrescentar pimenta-do-reino moída, que lembra o carvão em pó.
Segundo a Grande Enciclopedia Illustrata Della Gastronomia (Selezione dal
Reader"s Digest, Milão, 2000), "os traços deste prato na cozinha
romana, antes do final da Segunda Guerra Mundial, são vagos ou inexistentes e
se limitam a alguns testemunhos orais, recolhidos porém em tempos
recentes". Mesmo assim, alguns autores insistem na sua antiguidade,
atribuindo a invenção a Ippolito Cavalcanti (1787-1859), cozinheiro e literato
napolitano. Ele teria publicado uma receita semelhante no tratado Cucina Teorico Pratica, editado pela
primeira vez em 1837 e acrescido, na edição de 1839, do apêndice Cusina Casarinola co la Lengua Napolitana.
Há também autores que a associam à
Carboneria, sociedade secreta e política da Itália no século 19, com um
complicado simbolismo ritual, difundida em numerosos países europeus. Entre seus
iniciados figuraram líderes do movimento reunificador da Itália. Não há provas,
porém, de que conhecessem a receita. O diretor de cinema Luigi Magni aumentou a
confusão no filme La Carbonara.
Ambientou-o na velha Roma papal, colocando em cena a Corboneria e uma mulher
que administra uma trattoria renomada pelo prato. Até agora, a explicação
vencedora envolve os rapazes do general.
Aprenda
como fazer em RECEITAS DAS CRÔNICAS.
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