quarta-feira, 5 de novembro de 2014




CARLITO, CARLITOS OU CHARLOT E O SPAGHETTI


Por J. A. Dias Lopes


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      Já que comemoramos em 2014 os cem anos da criação do personagem Carlito (como o chamavam no Brasil), Carlitos ou Charlot, o adorável clown e poeta vivido nas telas pelo ator e diretor inglês Charles Spencer Chaplin (1889-1978), vale recordar que ele se encontra definitivamente associado ao spaghetti. A vinculação se deveu ao desempenho em um dos seus filmes antológicos, ou seja, às melhores cenas da comédia The Gold Rush (Em Busca do Ouro, de 1925).
      Tentando a sorte como garimpeiro e sem ter o que comer, Carlito tira a botina do pé, enfia na panela e leva ao fogo. Precisava matar a sua fome e a do colega de cabana, o grandalhão e truculento Big Jim McKay, representado pelo ator Mack Swain. A seguir, Carlito divide a botina em porções. A parte alta do pé e o tornozelo ficam para Big Jim. A sola repleta de pregos cabe a ele.
      Compete-lhe ainda o cadarço, colocado em um pratinho auxiliar. Torna-se um imaginário spaghetti, que o divertido clown enrola para levar à boca. Claro, a botina era de mentira (o cadarço também). A produção do filme a moldara com uma mistura de xarope de alcaçuz, açúcar e goma-arábica comestíveis.



Carlito come spaghetti de mentira na comédia The Gold Rush (Em Busca do Ouro), de 1925

      O ator e diretor Chaplin, criador de Carlito, não era um gourmet – pelo contrário. Gostava de poucas coisas: batata frita, salsicha, fondue de queijo e chocolate suíço. Entretanto, um prato relacionado ao filme The Gold Rush, que nada teve a ver com a botina e o cadarço, e nem apareceu na tela, marcou o seu paladar.
      Chaplin e todos os empenhados na fita comiam spaghetti de verdade nos intervalos do trabalho. Para alimentar os atores e dezenas de extras, havia uma cozinha de campanha no local das filmagens, que aconteceram nas geleiras de Truckee, na Sierra Nevada, e em Hollywood, distrito de Los Angeles. 
      O cozinheiro, que aliás era italiano, preparava um prato único, batizado de spaghetti à moda das montanhas. O molho levava manteiga, cebola picada, tomate pelado, ovos batidos, orégano, pimenta-do-reino moída, sal e, na finalização, ia queijo ralado. “Ficava uma delícia”, garantiram os atores. O nome do prato homenageava as cordilheiras que serviam de cenário. Alimentava tanto os falsos garimpeiros como os devoradores de botinas de mentira.
      O personagem Carlito foi homenageado na 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, realizada entre 16 e 29 de outubro passado. Ali foi exibida a sua centenária fita de estréia, Corrida de Automóveis Para Meninos, de apenas 11 minutos, lançada no dia 7 de fevereiro de 1914, embora o embrião do personagem tenha aparecido em Carlitos Repórter, outra comédia daquele ano.



O preparo do spaghetti das montanhas se encontra em RECEITAS DAS CRÔNICAS .

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