quarta-feira, 24 de dezembro de 2014



VÁ DE PAVLOVA NAS FESTAS 



Por J. A. Dias Lopes



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Quem a viu dançar garante que, quando ela saltava, “voava como um cisne”. Nenhuma bailarina combinou tão bem a leveza de movimentos e o lirismo interpretativo. A plateia emudecida não tirava os olhos de Anna Pavlova (1881-1931). Um biógrafo afirmou que o auditório parecia estático. “Ouvia-se até o zumbido dos insetos”, contou um deles. Nascida em São Petersburgo, na Rússia, e morta em Haia, nos Países Baixos, Anna Pavlova encantou o mundo da arte entre o final do século 19 e início do século 20.

Foi a primeira intérprete de A morte do cisne, o mais famoso solo da história da dança, e também a melhor dançarina de Giselle, joia do balé romântico. Dançou com Vaslav Nijinski e Mikhail Mordkin, dois dos maiores bailarinos de seu tempo. Apresentou-se 3.650 vezes, em inúmeros países, inclusive no Brasil. Em 1918, dançou no Teatro da Paz, de Belém, no Pará; na década de 20, apresentou-se nos teatros municipais de São Paulo e do Rio de Janeiro. Admirada e elogiada por contemporâneas ilustres, de Sarah Bernhardt a Isadora Duncan, era chamada carinhosamente pelos fãs de Pavlovtzi (Pavlovinha). 


Anna Pavlova dançando A morte do cisne, o mais famoso solo da história da dança

A grande bailarina teve uma sobremesa leve e elegante batizada com seu nome. É um merengue no qual as claras de ovos são batidas intensamente e, quando se tornam firmes, recebem açúcar, uma pitada de sal, um pouco de amido de milho (Maizena) e um toque de vinagre. A seguir, vai ao forno e, esfriando, é coroado com chantilly e frutas coloridas. Há quem adicione sorvete de creme e, no final, um pouco de licor de frutas (limão ou laranja) ou de vinho do Porto. Como a personagem que homenageia, de tão leve... parece voar. Pelo sabor delicado e beleza do acabamento, é uma sugestão de sobremesa para as comemorações do final de ano. 

Austrália e Nova Zelândia disputam a sua invenção e consideram a Pavlova “patrimônio nacional”. A grande bailarina se apresentou nos dois países em 1926. Os australianos afirmam que o doce foi criado em Perth, em 1935, pelo chef Herbert Sachse. E que seu conterrâneo Harry Nairn, do The Esplanade Hotel, fã inconsolável com a morte da bailarina, chamou-o Pavlova. Já os neozelandeses sustentam que desde 1927 preparavam um doce chamado de Pavlova, porém com receita diferente. Garantem que o inventaram em 1934, ou talvez anteriormente, com outro nome, e tendo o suspiro uma consistência de marshmallow. Em algum momento, que poderia ser o ano de 1935, e sempre precedendo os australianos, deram-lhe o nome da bailarina russa.

Anna Pavlova era filha de uma camponesa pobre, mãe solteira, que se apaixonou por um soldado. A bailarina nunca falava do pai e jamais o procurou, apesar de ele ter virado um rico comerciante. A mãe, preocupada em dar-lhe boa educação, levou-a em 1889, aos 8 anos de idade, ao Teatro Mariinski, de sua cidade natal. Ali, ambas assistiram ao balé A Bela Adormecida. O episódio mudou a vida da garotinha anônima. Motivada pelo espetáculo, Anna Pavlova foi estudar dança clássica e se tornou mundialmente famosa. 

Em 1930, um acidente no meio do caminho parou o trem que a transportava nos Países Baixos. Anna Pavlova desceu para ver o que acontecia. Como estava frio e ela usava roupas leves, contraiu uma gripe que virou pneumonia. Morreu em janeiro de 1931, antes de completar 50 anos de idade. Pressentindo o fim, vestiu o traje de A morte do cisne e se dirigiu a uma pessoa que a acompanhava como se falasse com o maestro da orquestra: “Execute o último compasso bem suave”. Dançando imaginariamente o último balé, fechou os olhos para sempre.


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